segunda-feira, 7 de julho de 2008

Sedas e cigarros

Se nós tocarmos com um cigarro aceso num tecido de seda, ele irá abrir um buraco e o que iremos ver através dele? Nada menos que a nova obra do diretor David Lynch. Vejam o trailer abaixo:


Inland Empire Trailer

Império dos Sonhos (Inland Empire) é certamente o filme mais ácido do diretor, pois descasca e destroça o glamour de Hollywood lentamente camada por camada, fazendo isso através de cada fase pela qual a personagem da Laura Dern vai passando. Creio que de alguma forma o diretor expressou alguma repulsa inconsciente à indústria para qual trabalha. Por que digo inconsciente? Porque ele não tinha o roteiro quando começou a filmar; ia escrevendo e filmando quando alguma idéia vinha a mente. Sério, é verdade, olha só a citação abaixo:
"This film is very different because I don’t have a script. I write the thing scene by scene and much of it is shot and I don’t have much of a clue where it will end. It’s a risk, but I have this feeling that because all things are unified, this idea over here in that room will somehow relate to that idea over there in the pink room."- David Lynch fonte

Por sinal, a Laura Dern deveria concorrer ao Oscar, pois sua atuação está impecável, desde o momento em que faz uma atuação artificial (como se fosse uma atriz ruim porém riquíssima), até o ápice, como uma prostituta em Hollywood Boulevard vomitando sangue sobre uma das estrelas da calçada da fama (confesso que não consegui ver de quem era essa estrela), ops, spoiler :-). Ela consegue passar o sentimento e a angústia de cada um que vive em torno da indústria do cinema, como se estivesse presa num pesadelo onde confunde-se a atriz e a personagem que vive no filme dentro do filme.

Se por acaso fores assistir a este filme, prepare-se, esteja no clima, pois a narração é angustiante e surreal como trabalhos anteriores do diretor (notei em especial Eraserhead e Estrada Perdida). Se ficares procurando lógica e "fio da meada", esqueça, não vais conseguir; apenas deixe-se levar pelas imagens e sons que vão mudando no decorrer do filme, pois cada camada na visão do diretor tem a sua fotografia e saturação de cores.

Bom, acho que não sou indicado para fazer críticas aos filmes do David Lynch, pois sou grande fã dele, acho que são os únicos filmes que conseguem passar sensações através de imagens e palavras desconectas.

Mas aqui vai a minha nota: 7, não precisava ser tão longo, surrealismo cansa depois de um tempo. Continuo achando que Cidade dos Sonhos (Mullholand Drive) é o melhor trabalho do diretor até o momento.

Nenhum comentário: