terça-feira, 22 de novembro de 2011

O leão, as ovelhas e o cercado

Olá a todos,

Este post pode ser considerado uma continuação ao post Um mundo mau, uma série de posts filosóficos sobre a presença e atuação do mal num mundo mau.
 
Este post será apresentado na forma de um conto, pois são apenas pensamentos desconexos da minha filosofia amadora.

Era uma vez..., um criador de ovelhas que construiu um grande cercado (e a cerca era bem alta também) para que ali pudesse criar o seu rebanho. Dentro deste cercado, construiu também um cocho onde ele diariamente colocava a ração que as ovelhas tanto gostavam, pois vinham rapidamente se fartar.
O tempo foi passando e passando e assim as ovelhas cresciam felizes e o rebanho estava sempre a aumentar. O aumento do rebanho não era um problema, pois o cercado que havia sido construído era realmente bem extenso, e tanto a ração quanto a água eram abundantes. O criador de ovelhas estava realmente contente.
Um dia ao caminhar por uma floresta, o nosso protagonista encontra um raro e belo espécime de leão, e como não podia perder tal oportunidade, arremessa um laço e habilmente o captura e imobiliza. Mas eis que lhe surgiu uma questão: Onde guardar tão belo e selvagem animal?
Pensou e pensou, e lhe ocorreu uma solução simples: bastava colocar um segundo cocho dentro do cercado, mas do lado oposto do cocho original (o das ovelhas), e neste novo iria então colocar a ração para leões. E para que pudesse colocar o leão dentro do cercado, construiu uma grua, onde uma corda foi presa, e esta por sua vez, amarrada ao leão.
E assim o fez: ergueu o leão com a grua, o passou sobre a cerca e o baixou novamente do lado de dentro. Para que o leão pudesse se movimentar por todo o cercado, o criador de ovelhas (e agora de leões também), deu-lhe bastante corda.
Como já havia sido colocado a ração para leões no novo cocho, sabia o criador que o leão tinha a opção de não se alimentar das ovelhas. Mas logo no primeiro momento, o leão atacou e devorou uma das ovelhas, e ficando todas demais nervosas, quando não apavoradas. O pastor tinha em suas mãos o controle da grua, podendo assim a qualquer momento retirar o leão do meio das ovelhas, mas sabendo que a ração lá estava, ali o deixou.
Dia após dia, o leão atacava, destroçava e devorava pelo menos uma ovelha, e o criador continuava a observar, sem retirar o feroz animal carnívoro de dentro do cercado; até que um dia não mais existia nenhuma ovelha a ser abatida. O leão, notando a falta do seu alimento favorito, passou a servir-se somente da ração.

A questão filosófica é: O mal se esconde naquele que age por sua própria natureza, ou naquele que observa mas nada faz? Teria sido, o criador de ovelhas, um ingênuo? Existiu culpa? Se existiu culpa, quem foi culpado? O leão, as ovelhas, o criador ou o cercado? As ovelhas poderiam ter feito algo? Poderiam as ovelhas ter convencido o leão que a ração é boa  [e saborosa] o suficiente? Poderiam todos ter convivido em harmonia?

Nota: Post inspirado pelo Paradoxo de Epicuro, filósofo grego do período helenístico (século III a.C.).

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Lendo E-Books

Olá a todos, li um e-book e segue os meus pensamentos sobre esta experiência.
Primeiramente um pequeno referencial teórico:
E-Book: Livro em formato eletrônico ou livro digital. As extensões mais comuns são pdf, epub, mobi e azw, entre outras.
E-Reader: Leitor de livros eletrônicos. Equipamento específico para esta atividade.
E-Paper: Papel eletrônico. Tela que mimetiza papel impresso.
E-Ink: Tinta eletrônica. Tecnologia utilizada pelos E-Papers para formação da imagem.

Ok, agora que os itens envolvidos estão devidamente conceituados, continuemos:
Acho que a pergunta que todos fazem é a seguinte: Um e-book substitui de fato um livro convencional?
A resposta é: Estão quase lá. Bem perto mesmo.

Vamos por partes:
Eu já havia comprado antes 3 e-books técnicos, mas acabei não lendo nenhum deles.
Como são arquivos de computador, você precisa de um para poder lê-los (óbvio). Agora pense o seguinte:
Um computador desktop (de mesa) segue o paradigma da máquina de escrever: você fica sentado com as mãos no teclado e lê os dados que aparecem logo acima no monitor. Até dá para trabalhar neles, mas ler um e-book, além de totalmente desconfortável, você ganha uma bela dor nas costas.

Aliás... já ia esquecendo..., todo livro deve possuir a seguinte [e importantíssima] característica: Deve poder ser levado para a poltrona, ou para a cama! Imagine a situação de tentar levar um desktop para a sua cama. Simplesmente não dá.

Mas então vocês irão dizer que temos os notebooks. Mas estes também utilizam o mesmo paradigma da máquina de escrever (só que as portáteis). Se você utilizá-lo na escrivaninha, lá vem o desconforto e a dor nas costas novamente. Se você levar para o sofá, o calor produzido por ele é bem desconfortável para o seu colo, quando não desaconselhado. Então você vai levar o notebook para a cama e é aquele trabalho todo: achar uma mesinha do tipo de café da manhã ou específicas para este tipo de equipamento; ajeitar os travesseiros para sentar o mais reto possível, arrumar os cobertores; ... e quando finalmente consegues se acertar, nota que esqueceu de pegar alguma coisa que está do outro lado do quarto (argh!), e aí tens que sair debaixo de todo esse "acampamento" para depois entrar novamente. E por fim, quando o sono chegar, terás que primeiro arrumar tudo isso antes de poder dormir. Só irá funcionar na primeira noite, pois na próxima não haverá paciência suficiente no mundo para repetir todo esse processo.

Os tablets (computadores só de tela), que estão novamente tentando achar o seu espaço (em 2002 fracassaram), veem demonstrado que desta vez vai com o sucesso de vendas do iPad e do Galaxy Tab. Esses computadores podem ser levados para o sofá e para a cama, mas a tela deles é de LCD. E a tela LCD emite luz; o que pode cansar a visão após um certo tempo de uso. Esse tempo é variável por pessoa, algumas ao passar um certo tempo num jogo (que exige concentração) ficam com a visão cansada e olhos um pouco avermelhados. Se você está confortável com essa emissão de luz, tudo bem, não será um problema.

Agora temos os e-readers, que são uma espécie de tablets especializados, cuja função única é a de apenas ler livros. A tela deles é composta de e-paper com tecnologia e-ink. Desta maneira a tela é bem similar à um papel impresso. Confesso que quando retirei da caixa, o aparelho que comprei (Amazon Kindle), achei que tinha um adesivo colado na tela, e o pior foi ficar procurando a pontinha para poder retirá-la (lamentável). As telas e-paper não emitem luz alguma, logo o abajur da cabeceira continua sendo necessário. E como estas telas imitam muito bem o papel, são bastante confortáveis na leitura. Logo na primeira noite, li um quarto de um e-book (Brida, de Paulo Coelho), e os meus olhos não estavam mais cansados do que se tivesse lido um livro convencional. No caso do Amazon Kindle, para melhorar a forma de segurá-lo, é vendido separadamente uma capa de couro que faz com que você sinta como se estivesse realmente segurando um livro, tanto no sentido táctil, posição e o peso dele (logo a compra é meio que obrigatória).

Um item que achei interessante, mas nesse caso é uma característica do Kindle, é que quando cheguei numa determinada página, havia uma parte do texto grafada com o número 3 ao lado, indicando que outros três leitores grafaram o mesmo trecho, criando assim um certo social em torno de uma determinada obra. Quando também grafei um trecho, ele já me deu a opção de publicá-lo no twitter e/ou no facebook. Legal, gostei. Para quem gosta de usar as canetas marcadoras de texto para achar a frase em outro momento, vai adorar.

Concluindo, a experiência de ler um e-book num e-reader foi muito mais satisfatória que havia imaginado. Estava muito cético com relação a isso, mas resolvi dar uma chance. E, realmente, as sensações de estar lendo um livro convencional é alcançado por esses equipamentos, até quando você esquece que está lendo e começa a visualizar a cena que está ocorrendo (situação muito bem descrita na obra Libri Di Luca).

Mas espera aí, e os pontos negativos?
Creio que o principal ponto contra é a experiência de se estar dentro de uma livraria. Ficar olhando livro por livro, mesmo sem a intenção de adquirir algum. Olhar o catálogo na tela do aparelho é totalmente impessoal e sem graça. A não ser que já se saiba qual livro adquirir, você ficará sem parâmetros para escolher (apesar de poder ler alguns capítulos gratuitamente).
O outro ponto negativo é o orgulho que temos de observar a nossa biblioteca particular; todos aqueles livros um do lado do outro, arrumados em cada prateleira. Um diretório de arquivos no computador não consegue substituir isso.

E aqui fica uma dica se você for pensar em comprar um e-reader: Não avalie apenas o equipamento, avalie também o catálogo de livros disponíveis para ele. Se preferes títulos em inglês, ou títulos em português é um requisito para você.

E aí? Qual será o seu e-book de cabeceira? ;-)

Abraços e boa leitura.

domingo, 22 de agosto de 2010

Assisti A Origem

Olá a todos,

Assisti ao filme "A Origem", novo filme do Christopher Nolan. Pra quem não lembra, ele é o diretor dos dois últimos filmes do Batman, o que aliás O Cavaleiro da Trevas é a maior bilheteria da Warner Bros., logo é meio óbvio que iriam dar sinal verde para um filme pessoal dele (Ele escreveu, produziu e dirigiu).

Para resumir o filme em uma frase, eu diria que é um "Missão Impossível nos Sonhos". Explico: Leonardo diCaprio (o personagem principal) recebe a missão de implantar uma ideia na cabeça do espantalho Cillian Murphy, e para isso pode escolher a sua equipe. A equipe que ele montou tem: Uma arquiteta, quem monta os cenários dos sonhos; um especialista em disfarces, que pode se passar por qualquer pessoa; um químico, para criar os compostos que deixem a pessoa sedada; um especialista em explosivos e armamentos, e um turista (?) que financia a missão, ou melhor, o contratante. Cada um da equipe, como descrevi, tem um papel essencial para o cumprimento da missão. Notaram a pequena semelhança?

Apesar disso é um filme extremamente competente e tecnicamente bem detalhado; palmas para a Escada de Penrose e para o Elevador de Einstein (sem este último só notados pelos mais nerds, mas se você procurar pelo assunto na internet, vai saber de qual cena estou falando). Acredito que se assistirmos o filme mais algumas vezes, iremos achar mais alguns dessas referências :-)

Existem algumas outras estorias parecidas no cinema, e a que mais me veio a cabeça foi o filme A Morte nos Sonhos (Dreamscape) de 1984 com Dennis Quaid, talvez achem ele em VHS no fundo de uma locadora.

Com relação aos efeitos visuais, a cena mostrada no trailer da cidade dobrando-se é realmente impressionante, inclusive a melhor do filme todo.

Minha nota: 8 Esperava um final mais surpreendente, e esse era meio óbvio. Ahh! Já ia esquecendo, a trilha sonora é excelente, um show a parte ;-)

A Origem - Trailer 2 Legendado

domingo, 1 de agosto de 2010

Livros

Olá a todos,

Estava pensando sobre livros, e lembrei que a pouco tempo, estava conversando com dois caros amigos sobre uma frase de Tomás de Aquino que diz o seguinte: "Timeo hominem unius libri".

Ok, transcrevi a frase em latim só para chamar um pouco mais a sua atenção sobre o assunto, mas segue a tradução: "Temo o homem de um livro só".

Os livros que lemos ajudam à formar a nossos pensamentos, pois nele existe o conhecimento acumulado da nossa civilização, e não pense que um livro de literatura barata não tem também o seu valor. Você vai se surpreender se desse uma chance para aqueles livros que ficam na prateleira de "encalhados" na livraria. Recentemente li "A breve segunda vida de Bree Tanner", e apesar da aparente falta de necessidade deste livro existir, conseguimos compartilhar com a personagem as dúvidas sobre as estórias mitológicas que nos são contadas, e pronto mais um pouco de conhecimento, ponto de vista, pensamento de outrem passa a fazer parte de nós também.

Voltando a frase de Tomás de Aquino, o que podemos entender dela? Uma pessoa que apenas lê um único livro, vê apenas um ponto de vista das coisas, é como sempre olhar para o mesmo lado da moeda, ou como só observar as sombras no fundo da caverna de Platão. Essa pessoa pode estar de certa forma cegada pelo que leu, e achar que tem todas as respostas. Geralmente é neste cenários que nos deparamos com fundamentalistas nos mais diversos assuntos, sejam estes religiosos, políticos, culturais e afins.
Ao procurar um pouco mais, me deparei com este pequeno, mas interessante, post sobre o mesmo assunto: "Temo o homem de um livro só", onde inclusive existe uma foto impressionante de um filme de Bertolucci, dá uma olhada lá.

Eu gosto de perguntar às pessoas sobre os livros que elas leem, isso mostra muito sobre elas; inclusive acho que nos sites dos atuais candidatos à cargos públicos, deveria estar listados seus livros lidos e os que eles consideram "o seu livro de cabeceira". Isso iria facilitar um pouco na hora da escolha, pois iriamos saber o que os influenciam e guiam.

Se neste momento, não estiver lendo nada, vá á uma livraria ou biblioteca, e sem assunto definido, caminhe por entre os livros, ao se sentir atraído por algum, tente sentir o mesmo que o autor sentiu ao colocar seus pensamentos nele. Fecho o post citando um trecho do excelente livro A Sombra do Vento:
"Cada livro, cada volume que vês, tem alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro muda de mãos, cada vez que alguém desliza o olhar pelas suas páginas, o seu espírito cresce e torna-se forte."

Até mais

terça-feira, 18 de maio de 2010

Um mundo mau

Olá a todos,

Tempos atrás um colega meu disse a seguinte frase (que estava citando de outra pessoa que no momento não me recordo):
- Cara, o mundo é mau!
Passei a refletir um pouco sobre isso e aqui segue os meus pensamentos:

Do ponto de vista científico:
Desde muito tempo existe a lei, ou instinto, de sobrevivência. Imagine o seguinte quadro: Existe uma pequena fonte d'água que só tem o suficiente para você e a sua família, e o defendes de todas as maneiras possíveis; pois se aparecer outro grupo de indivíduos e beber desta mesma fonte, não haverá para todos. Se você quiser sobreviver, tens que ser "mau", ou "egoísta". Trazendo esse quadro para o presente, a coisa não mudou muito, pois o instinto de sobrevivência continua nos acompanhando, seja ela no trabalho, nos relacionamentos pessoais, e outras que você mesmo pode imaginar.
Aliás, é bem comum ouvirmos a seguinte frase nos filmes: "Era ele ou eu." Provavelmente esse não parou pra pensar. E se o nosso planeta só pudesse produzir alimentos suficiente para 1 bilhão de pessoas? Será que haveria mais mal no mundo? Ou apenas indivíduos tentando sobreviver a qualquer custo?

Do ponto de vista moral:
Ser mau é cometer atos que prejudiquem outros. Se o mundo é mau, logo todos estão à prejudicar alguém? Acho um pouco difícil classificar cada ato em mau ou bom, pois teríamos que pesquisar se cada ato nosso prejudicou alguém, pois imagina o cenário: Você se superou e se destacou no ambiente corporativo, e ganhas a promoção almejada por vários, mas havia alguém entre eles que precisava desta promoção para acertar sua vida financeira. Você, sem saber, talvez tenha prejudicado alguém? Foste mau por ser um sobrevivente? Por ser o mais forte ou mais adaptado?
Aí entra a intenção de prejudicar. Se tive boa intenção, não fui mau. E o ditado popular? De boas intenções o inferno está cheio. Complicado, né?

Do ponto de vista religioso:
O mundo é mau porque existe o mal nele. Boa parte das religiões acredita num ser bom e num ser mal. O que gera um certo alívio nas pessoas, pois a culpa delas reduz em não ter conseguido resistir à influência do mal. Temos o livre-arbítrio. Aqui a divagação fica um pouco mais complicada, pois as religiões divergem em diversos aspectos, e qualquer pensamento meu irá deixar alguém descontente; portanto não serei mau.

Do meu ponto de vista:
O mundo não é necessariamente mau. Existem muitos atos que visam o bem de um único indivíduo ou grupo de indivíduos (coalizão), e para os demais isso é mau. Simplista? Com certeza. A definição de bom e mau vem do ponto de vista, logo são meramente abstratos.

Até mais, e sejam bons com o mundo e uns com os outros ;-)